Convidamo-lo a rezar em cada dia – quando lhe for mais conveniente – esta magnífica poesia oferecida no Pentecostes de 1942 à prioresa do Carmelo de Echt que tinha acolhido na sua comunidade a Irmã Benedita da Cruz e também à sua Irmã Rosa como Irmã externa. A poesia foi composta para o Pentecostes de 17 de Maio de 1937, dia em que Rosa recebeu a sua Confirmação em Berslau.
Quem és Tu?
Quem és tu, doce luz, que me preenche
E ilumina a treva do meu coração?
Como a mão de uma mãe conduzes-me
E, se me deixasses,
Não saberia dar nem mais um passo.
Tu és o espaço que envolve o meu ser
Abrigando-o em Ti.
Se Tu o rejeitasses,
Escorreria a pique para o abismo do nada
De onde o tiraste para o levantar para a luz.
Tu, que me és mais próximo que eu de mim mesma,
Que me és mais interior que o meu próprio coração,
E, no entanto, és esquivo, inconcebível,
Para além de todo o nome,
Espírito Santo, Amor eterno!
Não és tu o maná tão doce ao meu palato,
Que do Coração do Filho transborda para o meu,
Alimento dos anjos e dos bem-aventurados?
Ele, que Se ergueu da morte para a vida,
Soube despertar-me do sono da morte
Para uma vida nova.
Vida nova que me dá a cada dia
E cuja plenitude um dia me inundará,
Vida da tua própria vida,
Tu mesmo, em verdade, Espírito Santo, vida eterna!
Serás Tu o raio de luz brilhando como o relâmpago
Diante do trono altíssimo do Juiz eterno,
Penetrando como um ladrão na noite da alma
Que se ignorava a si mesma?
Misericordioso, implacável também,
Penetras até às suas profundidades ocultas.
A alma assusta-se com o que vê de si própria
E assim se guarda num temor sagrado
Diante do princípio de toda a Sabedoria
Que vem do alto
E nos prende a Si com uma âncora sólida,
Diante da Tua ação que nos criou de novo,
Espírito Santo, relâmpago que nada pára!
Serás Tu a plenitude do Espírito e do poder
Que permite ao Cordeiro quebrar os selos
Do decreto eterno da divindade?
À Tua ordem os mensageiros do julgamento.
Cavalgam pelo mundo inteiro e separam,
Ao fio da espada, o Reino da luz
Do reino da noite.
Os céus serão novos e a terra renovada,
E tudo encontrará então o seu justo lugar
Pelo Teu sopro ligeiro: Espírito Santo, poder vitorioso!
Serás Tu o Mestre-de-obras,
O construtor da catedral eterna
Que da terra se eleva ao céu?
Dás vida às suas colunas que se levantam,
Altas e direitas, sólidas e imutáveis.
Marcadas pelo sinal do eterno Nome divino,
Elas lançam-se para a luz e sustentam a cúpula
Que remata e coroa a santa catedral,
Obra Tua que abraça o universo inteiro: Espírito Santo,
Mão de Deus criadora!
Serás Tu quem cria o espelho límpido
Muito próximo do trono de Senhor, o Altíssimo,
Semelhante a um mar de cristal onde se contempla
A divindade numa troca de amor?
Debruças-Te sobre a obra mais bela de toda a Tua criação
E o Teu próprio esplendor de luz deslumbrante Te reenvia o seu reflexo,
Que une a beleza pura de todos os seres
Na figura cheia de graça da Virgem,
Tua Esposa Imaculada:
Espírito Santo, Criador de tudo o que é!
Serás tu o doce cântico de amor
E de respeito sagrado que ecoa sem fim
À volta do trono da Trindade Santa,
Sinfonia em que ressoa
A nota pura dada por cada criatura?
O som harmonioso,
A concordância unânime dos membros e da Cabeça,
Pela qual cada um, no auge da alegria,
Descobre o sentido misterioso do seu ser
E o deixa jorrar num grito de júbilo,
libertado ao participar da Tua própria efusão:
Espírito Santo, júbilo eterno!
Edith Stein/ Teresa Benedita da Cruz