«Então, fez-me compreender, no íntimo da alma e de uma maneira rápida o amor que o fazia sair de Si para me procurar; mas isto foi sem palavras e inflamou-me no amor de Deus».
«Disse-me que me amou e se quer unir a mim. Vi ainda que não se une com os anjos e contudo quer se unir com uma criatura tão miserável; quer identificá-la com o seu próprio ser, tirando-a das suas misérias para a divinizar, de tal maneira que chegue a possuir as suas perfeições infinitas».
Algumas vezes Deus actua na existência concreta de cada pessoa, através de caminhos tão misteriosos para nós e tão normais para Ele. É um Deus amigo que procura a união, inclusive nas circunstâncias mais difíceis: «Submeto-me com gosto à sua divina vontade, pois sei que é para me unir mais a Ele.
Esta união manifesta-se de várias formas e Teresa nos fala de algumas delas:
«Às vezes vejo-me submergida n’Ele, como num imenso abismo, no qual me perco, outras, como atraída pela sua imensidade. Então sinto grandes desejos de me unir a Ele. Oh, que bom é Nosso Senhor! Parece-me que a cada instante O toco e O estreito contra o meu coração.»
Mas a união nem sempre se realiza em situações extraordinárias, mas em momentos normais de encontro com Deus, num ambiente distendido de um simples estar com Ele:
«Depois fiquei muito recolhida, mas não senti nenhum fervor. No entanto, noto que muito interiormente Deus se une à minha alma, e sem palavras às vezes dá-me a conhecer a sua vontade».
Num outro momento Teresa nos dirá qual é a atitude normal de procurar e viver a “total união, que não consiste senão em nos ocuparmos d’Ele”.
«Podemos a cada hora oferecer-Lhe um ramalhete de amor. Que Ele encontre nas nossas almas um refúgio, um abrigo onde possa repousar do ódio dos seus inimigos e um jardim de delícias que O faça esquecer o esquecimento dos seus inimigos.»
Esta união com a vontade de Deus, fazendo o que Ele quer a cada instante, faz com que o nosso ser chegue, desde já e em contínuo crescendo, às mais altas metas da comunhão com Deus.
«Como poderemos ser mais semelhantes a Ele, se não fazendo a sua divina vontade. Ao quere-la e ao abraçar-nos a ela, queremos e praticamos um bem querido infinitamente por Deus, um bem que tem em si a razão eterna; um bem em que existe a sabedoria eterna; um bem em que existe o poder infinito, um bem em que existe concentrado, todo o amor, a santidade do nosso Deus. Ao fazer esse bem, por acaso não actuamos como Deus? Ao agir conforme a Deus, somos outro Deus; numa palavra somos Ele.»
Como viver a união com Deus?
Acolhendo O totalmente diferente
«Via a sua grandeza infinita e como baixava para se unir a mim, nada miserável, Ele, a Imensidade com a pequenez; a Sabedoria com a ignorância; o Eterno com a criatura limitada; mas sobretudo a Beleza com a fealdade; a Santidade com o pecado».
Com gratuidade
Teresa é consciente de que a união regalada é uma graça recebida, fruto da gratuidade absoluta de Deus.
«Uma vez que estive diante do Santíssimo, N. Senhor disse-me que desde esse momento estaria muito mais unida a Ele. E que Ele, como me amava queria que estivesse a seu lado. Mas também que sofreria muito ao longo da minha vida. Desde então comecei a estar muito mais unida a Ele. Via-O a meu lado, não com os olhos do corpo, na atitude de orar ao seu eterno Pai, como eu o tinha visto à muito tempo atrás representado numa imagem. Esteve-o vendo assim cerca de oito dias e depois, ainda que o quisesse representar não pude, pois antes era de uma maneira vivíssima.»
Na simplicidade diária
A vida de união é vida quotidiana e ininterrompida de enamorados, na normalidade dos acontecimentos e das circunstâncias ordinárias da pessoa humana.
«Encontro-me com a graça de Deus muito acima de tudo o que sinto. Amo-O, mas sem sentir esse amor como acontecia antes, quando me sentia sem forças e desfalecida. Agora, não é assim; estou mais unida a Ele, mas sem sentir nada». «Também me deu a entender que a união divina estava na perfeição da minha alma; em imitá-lo e sofrer com Ele».
E numa atmosfera de paz
Tanto na união extraordinária como na ordinária de quem procura realizar a vontade de Deus, a pessoa sente paz e sossego, pois a sua experiencia de Deus e a sua vivência de fé dão-lhe a segurança de que Deus a ama e que não pode não amar àquele que O busca de coração sincero.
«Cada dia que passa sou mais feliz. Não sei como pagar a Nosso Senhor tanto amor, tanta bondade com uma criatura que só merece ser desprezada. É uma atmosfera de paz e de alegria tão imensa a que me envolve… e ao mesmo tempo, parece-me que estou já na eternidade, no Imutável. Tais são as sensações que a união com Deus produz na minha alma.»
Oração:
«Entreguei-me a Ele,
É impossível dizer tudo o que quero.
O meu pensamento não se ocupa senão d’Ele.
É o meu ideal. É um ideal infinito.
Suspiro pelo dia de me ocupar só d’Ele,
Para me fundir n’Ele
E para viver a vida d’Ele.
Oh, amo-O tanto!
Queria inflamar-te nesse amor.
Que dita a minha se te pudesse dar a Ele!
Oh, nunca tenho necessidade de nada,
Porque em Jesus tenho tudo o que procuro.
Ele jamais me abandona.
Jamais o seu amor diminui.
É tão puro. É tão belo.
É a própria Bondade.»
É impossível dizer tudo o que quero.
O meu pensamento não se ocupa senão d’Ele.
É o meu ideal. É um ideal infinito.
Suspiro pelo dia de me ocupar só d’Ele,
Para me fundir n’Ele
E para viver a vida d’Ele.
Oh, amo-O tanto!
Queria inflamar-te nesse amor.
Que dita a minha se te pudesse dar a Ele!
Oh, nunca tenho necessidade de nada,
Porque em Jesus tenho tudo o que procuro.
Ele jamais me abandona.
Jamais o seu amor diminui.
É tão puro. É tão belo.
É a própria Bondade.»