«Quem sou Eu para ti?» Para que a nossa resposta seja verdadeira, Jesus adverte-nos que «é preciso que o Filho do homem sofra muito». Certos da misericórdia de Deus para com a nossa fraqueza, comprometemo-nos no seguimento de Cristo.

«Que diz Jesus ao entrar no mundo? “Eis-me aqui, venho, ó Deus, para fazer a vossa vontade”(Hb 10,9). Parece-me que esta oração deveria ser como o bater do coração da esposa: “Eis-nos aqui, ó Pai para fazer a tua vontade”! O Mestre foi tão verdadeiro nesta primeira oblação. A sua vida foi disso, por assim dizer, a inteira consequência! “O meu alimento é fazer a vontade d’Aquele que me enviou”(Jo 4,34). Este deve ser também o da esposa, e, simultaneamente a luta que a imola… “Pai se é possível que se afaste de mim este cálice; mas não, não seja como eu quero, mas sim como Vós quereis” (Mt 26,39). Então ela vai em paz, alegre, para toda a imolação com o Mestre, regozijando-se de ter sido “conhecida” pelo Pai, pois que Ele a crucifica com o seu Filho. (…) Sem nunca O abandonar, permanecendo neste intenso contacto poderá irradiar “essa secreta virtude”, que salva e liberta as almas. Despojada, liberta de si mesma e de tudo, poderá então seguir o Mestre até à montanha para aí fazer com Ele, em sua alma, “Uma oração a Deus”. Depois quando vier a hora da humilhação, do aniquilamento, há-de lembrar-se daquela pequena expressão “Mas Jesus ficou calado”. E calar-se-á, guardando, “conservando toda a sua força para o Senhor”, essa força que “se decanta no silêncio”. Então, quando vierem o abandono, o desamparo, a angústia, que fizeram Cristo lançar aquele grito: “Porque me abandonaste?”, recordar-se-á desta oração: “que tenham em si a plenitude da minha alegria (Jo 17,13); e bebendo até ao fundo “o cálice preparado pelo Pai” há-de poder encontrar, na sua amargura, uma divina suavidade. Por fim, depois de ter dito muitas vezes “tenho sede” sede de vos possuir na glória, há-de cantar: “Tudo está consumado, nas vossas mãos entrego a minha alma”. E o Pai virá buscá-la a fim de a transferir para a sua herança, onde, “na luz, verá a luz”. “Sabei, cantava David, que Deus glorificou maravilhosamente o seu Santo” (Sl 4,4). Sim, o Santo de Deus terá sido glorificado nesta alma, porque tudo haverá destruído nela, para a “revestir de Si próprio”, e dado ela praticamente ter vivido a palavra do Precursor: “É preciso que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3,30).

Isabel da Trindade