Ao verem os milagres de Jesus «todos ficaram impressionados». Seguem-n’O grandes multidões, mas Jesus diz que é preciso assumir também a sua cruz para «o preferir» a todas as coisas e «caminhar atrás d’Ele», unido aos irmãos da comunidade crente. Isabel volta a dizê-lo com S. Paulo.

Parece-me que “caminhar em Jesus Cristo” é sair de si, perder-se de vista, abandonar-se para entrar mais profundamente n’Ele a cada minuto que passa, tão profundamente que n’Ele se fique enraizada, e que em todo o acontecimento, e a todas as coisas se possa lançar este belo desafio: “Quem me poderá separar do amor de Jesus Cristo?” (Rm 8, 35). Quando a alma está fixa n’Ele em tais profundidades, quando as suas raízes assim se afundam, a seiva divina expande-se nela em ondas, e tudo o que é vida imperfeita, banal, natural é destruído. A alma, assim despojada de si mesma e revestida de Jesus Cristo já não tem a temer os contactos com o exterior, nem as dificuldades do interior, porque estas coisas longe de lhe constituírem obstáculo, apenas conseguem “enraizá-la mais profundamente no amor”(Ef 3,17) do seu Mestre. Em tudo, para com tudo e contra tudo está em estado de O adorar sempre por causa d’Ele próprio”(Sl 71, 15). Por ser livre, liberta de si mesma e de tudo. Eis o que S. Paulo entende quando diz: “ser enraizada em Jesus Cristo” (Cl 2,7).

E agora, o que é ser edificado n’Ele? (Cl 2,7) Ele é esse rochedo onde a alma é elevada acima de si mesma, dos sentidos, da natureza, acima das consolações ou das dores, acima do que não é unicamente Ele. São Paulo recomenda-me que “esteja fortalecida na fé”: nesta fé que nunca permite à alma adormecer, mas que a mantém sempre vigilante sob o olhar do Mestre, totalmente recolhida na sua palavra criadora, nesta fé “no tão grande amor” que permite a Deus encher a alma “segundo a sua plenitude” (Ef 3,19).

Enfim, ele quer que “eu cresça em Jesus Cristo pela acção de graças”: pois é nela que tudo deve acabar! “Pai dou-te graças!” (Jo 11, 41). Eis o que se cantava na alma do meu Mestre, cujo eco Ele quer ouvir na minha! Mas, parece-me que o “cântico novo” que melhor pode encantar e cativar o meu Deus é o de uma alma liberta de si mesma, na qual Ele possa reflectir tudo o que Ele é e fazer tudo o que Ele quer.

Isabel da Trindade