«A minha alma está sempre nas minhas mãos» (Sl 118). Eis o que se entoava na alma do meu Mestre. Eis também porque entre todas as angústias Ele sempre permanecia o Calmo e o Forte. A minha alma está sempre nas minhas mãos!… Que quer isto dizer, senão esse pleno domínio de si na presença do Pacífico?

Há ainda um outro cântico de Cristo que eu queria repetir sem cessar: “Para vós guardarei a minha força” (Sl 58,10). A minha Regra diz-me: “No silêncio encontrareis a vossa força”. Parece-me, pois, que guardar a sua força para o Senhor, é realizar a unidade em todo o seu ser, pelo silêncio interior. É reunir todas as suas potências para as ocupar no exclusivo exercício do amor. É ter aquele olho simples que permite à luz de Deus iluminar-nos.

Uma alma que discute com o seu eu, que se ocupa com as suas sensibilidades, que persegue um pensamento inútil, ou um qualquer desejo, esta alma dispersa as suas forças e não está inteiramente orientada para Deus. A sua ira não vibra em uníssono e o Mestre, quando a toca, não pode tirar dela harmonias divinas. Pois há demasiado de humano e é uma dissonância. Em lugar de prosseguir, na simplicidade, o seu louvor em tudo, tem que estar sem parar a reunir as cordas do seu instrumento, que estão dispersas um pouco por todos os lados.

Como é indispensável esta bela unidade interior à alma que quer viver já aqui a vida dos bem-aventurados, dos seres simples, dos espíritos. Parece-me que o Mestre tinha isso em vista quando falava com Madalena do “único necessário”. Como a grande santa o tinha compreendido! Com o olhar da alma esclarecido pela fé tinha reconhecido Deus sob o véu da humanidade.

Assim acontece com a alma que entrou na “fortaleza do santo recolhimento”. O olho da alma aberto à claridade da fé, descobre Deus presente, vivendo nela. Por sua vez, ela permanece-Lhe tão presente, na bela simplicidade, que Ele a guarda com um cioso cuidado. Podem sobrevir, então, as agitações do exterior, as tempestades do interior, pode-se mesmo atingir o seu ponto de honra: “Já não sei mais nada!” Deus pode esconder-se, retirar-lhe a sua graça sensível: “Já não sei mais nada”… E ainda com São Paulo: “Por seu amor, tudo perdi” (Fl 3,8). Então, o Mestre está livre, livre para se difundir, para se dar “segundo a sua medida” (UR 3-5).

Isabel da Trindade