A oração é uma arte na qual nos podemos aperfeiçoar durante toda a vida. Não pense que se há-de praticar sempre da mesma maneira, senão que temos de ir progredindo sempre de bem em melhor.

Os que começam a ter oração são como os que tiram água de um poço para regar o horto, que é algo trabalhoso e o resultado é bem pequeno. É verdade que lhes custa muito recolher os sentidos que como estão acostumados a andar dispersos e cheios de ruídos, é grande trabalho. É necessário ir-se acostumando a estar em silêncio interior e exterior, lendo bons livros e discorrendo com o seu entendimento no que lêem; meditando na vida de Cristo e no conhecimento de si mesmos e nos mistérios da nossa fé.

A segunda maneira de regar o horto é servindo-se de uma nora com um torno e arcabuzes, que se tira mais água com menos trabalhos, (recordo que na casa de meu pai havia uma destas). A este modo chamo “oração de quietude”, em que começam a recolher-se as potências da alma dentro de si. Há que procurar ter a Cristo, nosso bem, sempre presente, acostumando-se a não só lhe dar nada de ver ou ouvir fora Dele. Deixe-se olhar por Cristo e olhe-o com afecto e gratidão.

A terceira forma de regar o horto é quando se tem um rio, um ribeiro, que se encaminha a água pelos sulcos e se deixe que empape a terra, com pouco trabalho do hortelão. Certo é que a corrente da água tem que a dar o Senhor. Este terceiro grau de oração é um sono de potências em que se goza de Deus com muito deleite sem entender o que se passassem podê-lo explicar com palavras.

Não me parece que esta paz, deleite e contento nasçam do próprio coração, nem dos seus pensamentos, nem do que viu nem ouviu, mas de outra parte mais interior. É tal o gozo interior que toda ela queria ser línguas para louvar o Senhor, ao qual diz mil desatinos santos e amorosos.

O quarto grau de oração é como quando chove sobre o campo, que a terra molha-se mais e o hortelão não trabalha nada. Assim quando Deus quer comunicar-se nesta divina união, goza-se sem entender o que se goza, participando da vida e do amor e da companhia de Deus, que a levanta e a introduz em Si.