Jo 20, 11-18

«Maria estava junto ao túmulo, da parte de fora, a chorar». Maria chora porque lhe levaram o único sinal que lhe restava do amor da sua vida. Agora tudo é árido e o seu coração é trespassado pela aridez.

Raiou o dia e Maria levada pelo grande amor que tinha ao Mestre vai manifestar-lhe pela última vez a sua afeição embalsamando o corpo, mas encontra o sepulcro vazio. Às vezes o nosso caminho de seguidores de Jesus também é assolado pela aridez.

A fé, que enche de luz a nossa alma, converte-se num sepulcro vazio. O coração fonte de água fresca e da moção do Espírito, seca e parece ficar sem vida. O trabalho que era irradiação espontânea dos dons de Deus e enchia de alegria, perdeu o sabor, custa um esforço muito grande e não proporciona a menor satisfação.

Este é o momento de nos mantermos firmes apesar do peso da prova, como Maria junto do túmulo, da parte de fora, a chorar, mas em contínua procura do Mestre. Nada comove mais a Jesus que esta fidelidade no meio da tristeza e da aridez e secura.

Este é o momento de dizermos como Maria: «Levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram». O momento de permanecermos fiéis à obediência, de agarrar firme a mão que nos conduz através da noite escura que nos envolve por todos os lados. Termos a certeza plena e confiante de que, na altura certa, Deus nos fará ouvir a voz dos anjos que se compadecem, que iluminam e ajudam. Por alguma coisa eles estavam um à cabeceira e outro aos pés. São luz para a mente obscurecida e para a fé que se esvai e sustem para recomeçar o caminho mesmo na mais densa escuridão.

Maria viu Jesus e não o conheceu. E Jesus diz-lhe: Maria! Chega o momento em que Aquele Desconhecido chama a Maria pelo seu nome e basta esta voz para fazer cair a venda dos olhos de Maria e revelar-lhe o mistério.

Jesus chama pelo nome, porque é Pai que ama. A sua voz que chama faz com que cada pessoa conheça que é Ele, no íntimo do seu coração.

Deus chamou a Adão: «Adão, Adão, onde estás?» e a sua voz foi o suficiente para ele conhecer a sua culpa. Chamou Zaqueu: «Zaqueu desce depressa que hoje quero ficar na tua casa». Bastou este chamamento para converter Zaqueu e fazê-lo abrir as portas da sua casa para O receber. Muitas vezes também nos chamou a nós a mim e a ti. O que lhe respondemos? Maria logo que O reconhece deita-se a seus pés para o abraçar, mas Jesus diz-lhe: «Não me toques porque ainda não subi para meu Pai». Jesus ama Maria com um Amor Novo, um amor vivo que inunda todo o ser de Maria, um amor espiritual que corresponde à condição do Ressuscitado.

Este amor ardente que Maria nutria por Jesus e se mantinha entre os dois, agora o Ressuscitado acolhe-O de forma totalmente nova. Confia a Maria a Missão de O amar através do Anuncio da Sua Ressurreição aos Apóstolos. «Jesus disse-lhe: «Não me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vai ter com os meus irmãos e diz-lhes: ‘Subo para o meu Pai, que é vosso Pai, para o meu Deus, que é vosso Deus.’» Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: «Vi o Senhor!» E contou o que Ele lhe tinha dito.»

Também nos desafia a nós a manifestar-Lhe o nosso amor, a nossa afeição, a nossa sensibilidade no seguimento das Suas pegadas, no anúncio da sua Ressurreição, na entrega ao seu Reino. A fazermos da nossa vida uma vida de seguidores de Cristo.

Escutemos o que nos diz Santa Teresa dos Andes acerca do seu mistério de seguidora de Cristo:

«Jesus convida-nos para a conquista do reinado do seu Coração. Para isso é necessário reformarmo-nos a nós mesmos. Estar dispostos a todos os sofrimentos para depois gozar com Ele no céu. Estar dispostos a seguir Jesus onde Ele quiser. Ele escolhe a pobreza, as humilhações, a cruz e exige para mim todos estes dons.

Deixo-me guiar porque sou cega e Ele é a minha Luz. Sou como soldado que segue o seu capitão. O seu soldado o seguirá até à morte, mas sempre ajudado pela sua graça.

O meu Divino Capitão mostra-me tudo isto, para que depois não me espante perante a luta que terei que manter contra os meus inimigos. Olho tudo e depois olho-me a mim mesma. Afasto o meu olhar e apresenta-se-me Jesus Cristo, o meu Esposo adorado com a sua cruz. Determino-me e lanço-me no seu Divino Coração e totalmente esquecida de mim, quando Ele me diz: ‘Segue-me’ eu respondo-lhe: ‘Aonde Tu quiseres, Senhor’.

A mim tocou-me a melhor parte, a mesma que a Madalena. O Divino Mestre compadeceu-se de mim. Aproximando-se, disse-me muito baixinho: ‘Deixa o teu pai, a tua mãe e tudo quanto tens e segue-me.’»

Este seguimento do chamamento de Jesus pela calçada que conduzia à montanha do Carmelo estava tapetado de gozos e sofrimentos, sobretudo pela separação da família. Mas a cabeça e o coração cativados por Jesus não duvidavam, Teresa: escolhia Deus; era necessário seguir Jesus. Segui-Lo, segui-lo, segui-Lo.

«A voz de Deus é mais forte e eu devo seguir Jesus até ao fim do mundo, se Ele quiser. Não creia que tudo o que lhe digo não me faz sofrer. Bem sabe que sou incapaz de lhe ocasionar voluntariamente um sofrimento. Mas, ainda que o coração sangre, é necessário seguir a voz de Deus.»

«Olho para Jesus,

Sou feliz e jamais deixarei de o ser,

Porque pertenço ao meu Deus,

Nele encontro a cada instante o meu céu

Um amor eterno e imutável.

E nada mais desejo que a Ele.»