Parece-me que nada diz tanto do amor que está no Coração de Deus do que a Eucaristia: é a união, a consumação, é Ele em nós, nós n’Ele e não é isto o Céu na Terra? O Céu na fé aguardando a visão do face a face tão desejada? Que eu esteja inteiramente disponível, toda desperta na fé, para que o Mestre possa levar-me por onde quer. Desejaria manter-me incessantemente junto d’Aquele que sabe todo este mistério, para tudo d’Ele ouvir. “A linguagem do Verbo é a infusão do dom”, diz S. Bernardo de Claraval. Acho que este amado silêncio é uma bênção. Da Ascensão ao Pentecostes estivemos em retiro no Cenáculo à espera do Espírito Santo, e foi tão bom. Durante esta oitava tivemos o Santíssimo Sacramento exposto no Oratório. São horas divinas as que se passam neste pequeno recanto do Céu em que possuímos a visão em substância sob a humilde Hóstia. Sim, é de facto o Mesmo que os bem-aventurados contemplam na claridade e que nós adoramos na fé. No outro dia escreviam-me um pensamento tão belo, que vos envio: “A fé, é o face a face nas trevas”. Porque é que não seria assim para nós, se Deus está em nós?”

Não tendes esta paixão de O escutar? Às vezes é tão forte esta necessidade de se ficar calado, que se desejaria já não saber fazer mais nada do que ficar como Madalena, esse belo exemplo de alma contemplativa, aos pés do Mestre, ávida de tudo ouvir, de penetrar cada vez mais profundo no mistério da Caridade que Ele veio revelar-nos. Não achais que na acção, enquanto se desempenha o ofício de Marta, a alma pode ainda permanecer inteiramente adoradora, sepultada como Madalena na sua contemplação, mantendo-se nesta fonte como uma sedenta (Lc 10, 38-42)? Pois é assim que compreendo o apostolado, tanto para a carmelita, como para o padre. Ambos podem então reflectir Deus, dá-l’O às almas que sem cessar se mantêm junto a estas divinas fontes. Parece-me que seria preciso chegarmos até junto do Mestre e comungar de tal modo com a sua alma que nos identificássemos com todos os seus movimentos, e depois partir, como Ele, na vontade do seu Pai. Então, que importa o que se passa na alma, dado ter fé n’Aquele que ela ama e que permanece nela. Quereria, como diz S. Paulo, “sepultar-me em Deus com Cristo”, perder-me nesta Trindade que um dia será a nossa visão.»

Isabel da Trindade