25 Anos de Consagração Religiosa

Despertei para a realidade vocacional aos 6 anos quando vi uma religiosa na minha terra a pedir. Eu ia pela mão da minha mãe e ao ver esta Irmã ao longe, deixei pela primeira vez a minha mãe e corri com o coração cheio de alegria exclamando interiormente: Ai Deus!Ao Chegar junto dessa Irmã, disse-lhe que queria ser freira e ela com um lindo sorriso disse-me que seria quando fosse grande.

A questão forte que ficou dentro de mim desde esse dia foi: Deus existe? Como posso estar com Ele? Esta grande questão, que é comum a todos, foi amadurecendo dentro de mim. A catequese como preparação para a Primeira Comunhão foi um subsídio muito forte para o esclarecimento desta questão. Fiz a Primeira Comunhão com a convicção de que ia receber Jesus (Deus) no meu coração. Agora posso estar com Ele e falar com Ele, dizia!

Data importante, foi também a Profissão de Fé em que pela primeira vez pode dizer em coro e em público: “Sim Creio” (em Deus)! Nesse dia o Senhor Padre José Arnaldo deu-me um livrinho ilustrado, da mensagem de Fátima, que me interpelou de novo para a vocação.

Aos 16 anos de idade conheci o Senhor bispo Dom António Marcelino numa catequese vespertina para o Santo Crisma. Ele falou-me a mim e aos meus colegas, de um convento de Carmelitas Descalças que estava a ser construído na nossa Diocese e como era importante a nossa oração e a renúncia aos nossos bombons. Gostei muito desta figura de Cristo na terra! Foi depois de receber este Santo Dom de Deus, que dei conta de uma dualidade dentro de mim à qual eu não podia responder: Deus existe? Porque sinto que me chama?  

Os belos tempos de catequese passaram e começou uma nova etapa do meu percurso cristão: é necessário dar testemunho de Deus, já não em coro, mas pessoalmente. Como anos atrás deixei a escola por esta ficar muito longe da minha aldeia, agora os meus queridos pais cumpriram o que me prometeram: voltar à escola quando o Colégio de Calvão abrisse. Assim voltei aos estudos neste Colégio que amei e nunca mais esqueço! Fiz muitas amizades no Colégio, no Trabalho e na minha terra! Gostava de passear e as oportunidades não se distanciavam aproveitando inclusive para isso o facto de o meu querido pai ser chofer da Rodoviária Nacional e quando havia vaga, todos os meus irmãos eram convidados, mas só eu dizia sim! Foi também nesta fase da minha vida que namorei e estive mesmo quase a ficar noiva de um rapaz.

Certa ocasião, num grupo de amigos, comecei a sentir-me distante de todos; como se eu fosse arrebatada do tempo. Percebi então que há outros valores na vida que até agora me eram indiferentes e em parte desconhecidos. Não consegui ficar ali mais tempo e fui para casa. Entrei no meu quarto e ajoelhei-me junto de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima e pedi-Lhe que me desse luz pois não entendia o que se estava a passar dentro de mim. A minha prece não se fez esperar. Na festa de Nossa Senhora de Vagos senti-me inspirada a renunciar aos meus apetites de jovem e com o dinheiro que a minha mãezinha me tinha dado para esse fim, comprar uma Bíblia. Quando perguntei o preço, o dinheiro não chegava. Uma senhora olhou para mim e disse-me para eu comprar que ela dava o restante. Eu agradeci-lhe com a alegria de que tinha sido Nossa Senhora que a Inspirou!

Com a leitura frequente da Palavra de Deus comecei a estar mais atenta na Santa Missa e a aproximar-me mais do Sacramento da Confissão e pouco a pouco fui sentindo dentro de mim que Deus existe e me estava a chamar para algo diferente! Por esta ocasião o meu paizinho disse num almoço que Deus não existe; que a Igreja tem uma doutrina para haver paz no mundo. Todos nos calamos mas o meu coração ficou inquieto mais uma vez sobre a existência de Deus.

Um Natal ajoelhei-me junto do Menino Jesus no presépio e pedi-Lhe que iluminasse o meu coração e disse-se o que queria de mim! Passado algum tempo vieram à minha terra dois missionários do Espírito Santo. Dirigi-me à Irmã Amélia e disse-lhe que desejava ser religiosa. Fiz com esta Irmã uma grande amizade e tive alguns encontros com ela. Gostei muito de tudo o que me contou sobre a missão no outro lado do mundo. Morreu em odor de santidade! Sentia no entanto que não era totalmente o que Deus queria para mim.

Com o fim de alcançar luz sobre a vontade de Deus sobre mim, dirigi-me para Fátima. Uma vez junto da minha querida Mãe do Céu desabafei com Ela e contei-Lhe tudo! Senti uma confiança e uma paz tão grande que não sei descrever!

Algum tempo depois conheci uma senhora que conhecia o Carmelo e falei-lhe da minha dificuldade. Ela disse-me que tinha todo o gosto em ajudar-me e deu-me a HISTÓRIA DE UMA ALMA e as OBRAS COMPLETAS DE SANTA TERESA. Li e gostei muito e tive a luz que tanto procurava! A minha vocação não consistia em estar num lugar e num povo a trabalhar e a dar testemunho de Deus mas a estar no Coração de Deus a trabalhar por todos com a Oração e a Imolação escondida, no silêncio do Carmelo.

Conheci as Irmãs Carmelitas de Aveiro em Janeiro e em Março do mesmo ano entrei neste Santuário de Deus, onde me encontro à 25 anos! Não foi fácil. Os meus pais não me compreenderam. A minha querida mãe só me visitou passados 15 anos. Depois amou fortemente a vontade de Deus a meu respeito. O meu querido pai, não me visitou até ao dia de hoje.

Nesta comunidade em que me encontro, aprendi a amar a Igreja e o mundo com entranhas de misericórdia a exemplo de Jesus Cristo que me amou e me ama para sempre! Aprendi a sublime vocação de orar pelos Sacerdotes e ministros da Santa Igreja. Aprendi rezar por cada membro da Igreja. Aprendi a interceder por cada ser humano irmão meu. Aprendi o caminho da virtude e da santidade para a qual, a vida de fraternidade é estritamente necessária. Aprendi que o cristão se alimenta da Palavra de Deus; do Pão Santo da Eucaristia; da comunhão cotidiana com os irmãos.

Passado o meu tempo de formação, fiz pela primeira vez uma confissão pessoal de Deus, diante de uma Assembleia Eucarística: a minha Profissão religiosa. A minha alegria foi imensa! Sempre fui feliz desde que existo no seio da minha querida família. Mas esta alegria está em aumento até aos dias de hoje! Não me canso de agradecer a Deus a existência e o chamamento! Ao olhar para traz, vejo que” Deus me conduziu por todo o caminho por onde andei até chegar a este lugar”!

É grande ser-se Carmelita e Missionária nos claustros de um convento, onde tudo o que se faz não é visto pelas criaturas que Deus ama! É bela a minha vocação! Neste claustro, passo o meu tempo a conversar com as três Pessoas da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Converso, porem, mais com Jesus sobre a vida dos Homens meus Irmãos. Eu partilho a minha vida com Ele e Ele partilha os seus interesses comigo para que eu me una a Ele no seu projeto de salvação de toda a Humanidade. Depois peço-Lhe que me una a Ele e me faça santa para sua glória! Para que isto aconteça, Jesus faz-me passar por dias que não sinto o seu amor e por isso o meu amor pela Missão parece menos forte; contudo depois fica mais amadurecido.

Encanta-me ver Jesus no silêncio familiar durante 30 anos; ver Jesus a orar no monte depois da multiplicação dos pães; ver Jesus a orar antes de escolher os seus discípulos; ver Jesus a rezar antes da sua Missão evangelizadora; ver Maria nas Bodas de Caná a interceder a Jesus pelos noivos; ver Jesus a rezar ao Pai antes de ressuscitar Lázaro; ver Jesus a orar na última ceia; ver Jesus a ensinar-nos o Pai-Nosso; ver Jesus a rezar depois de Ressuscitado! Encanta-me ouvir Jesus dizer que “Maria escolheu a melhor parte”. A nossa fundadora disse que “marta e Maria andam juntas” e eu assim o experimento na vida; por isso não me sinto mais que as outras vocações, mas sinto-me elegida com predileção!

Irmã Graça Maria do Menino Jesus
Carmelita Descalça