Sempre que fazemos silêncio e paramos diante do Senhor, a contemplar o seu mistério, recebemos graça, uma graça que para nós é participação no seu mistério. É “entrar dentro” e tomar parte na vida divina que Ele encerra, ou se quisermos é ser movido pelo Espírito Santo para a plenitude do mistério que é a nossa verdade última.

É isto que vamos fazer, receber graça sobre graça da plenitude do Verbo feito carne. Para isso gostaria que víssemos o momento da vida de Jesus, que é o Baptismo, como um receber. E se nos perguntamos o que recebe Jesus ou se perguntamos a Jesus o que é que Ele recebe no Baptismo, vamos encontrar a mesma resposta a presença do Pai e do Espírito Santo e a voz do Pai que diz: «Tu és o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência».

Por uns momentos vamos deixar que ressoem dentro do nosso coração as palavras do Pai: «Tu és meu Filho muito amado no qual pus toda a minha complacência». Se, na nossa oração, nos detivermos aqui vamos ver que a complacência de Deus começa a invadir o nosso interior como dom gratuito, como olhar amoroso do Pai que penetra o nosso íntimo e nos faz descobrir a bondade de Deus presente em todas as coisas, a graça de Deus que vem até nós como bênção. Sentimo-nos com Jesus a receber a complacência do Pai, sentimo-nos na fé a receber da sua plenitude graça sobre graça.

A complacência de Deus significa Amor. Amor no qual tudo foi feito e sem Ele nada existe. Encontramos a criação como manifestação da complacência do Pai, em especial na criação do homem, quando Deus “contemplou tudo o que tinha feito, viu que era tudo muito bom” (Gen 1,31).

A criação por Amor e no Amor leva-nos a descobrir o Amor do Coração de Jesus como aquela terra firme onde podemos colocar os pés para olhar com confiança e esperança todas as coisas. Nesta terra firme que é o Amor do Coração de Jesus descobrimos a harmonia e a beleza do mundo, o sentido da vida, os valores que abrem todas as coisas ao infinito. Nesta terra firme do Amor, com Deus, nós descobrimos a Bondade de todas as coisas e rezamos: “É tudo muito bom!”

Passemos do acto criador de Deus para o rio Jordão e o monte Tabor e escutemos a voz do Pai que diz: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência; escutai-O» (Mt 17,5).

A eterna complacência do Pai acompanha o Filho em toda a sua “vida”, quando Ele se fez homem, quando acolheu a missão messiânica a realizar no mundo, quando dizia que o seu alimento era cumprir a vontade do Pai.

No fim, Cristo cumpriu esta vontade fazendo-se obediente até à morte na Cruz, e então aquela eterna complacência do Pai no Filho, que pertence à intimidade do mistério Trinitário, torna-se parte da história do homem. O Filho fez-se homem e enquanto tal, teve um coração de homem, como o nosso, com o qual amou e respondeu ao amor. Antes de tudo ao Amor do Pai e por isso no Seu Coração encontra-se a plenitude da complacência do Pai.

É a complacência salvífica. Com ela, o Pai, abraça e envolve todos os outros filhos, abraça-nos a nós no Coração de Cristo. Abraça e envolve todos nós, por quem o Filho Eterno se fez homem, por quem assumiu um coração humano, por quem deu a vida. No Coração de Jesus cada um de nós e o próprio mundo encontra-se com a complacência do Pai, com o Amor do Pai, com a Misericórdia de Deus.

Da plenitude deste Coração amoroso recebemos graça sobre graça (Jo 1, 16). Em Jesus é o amor que dita a plenitude do seu Coração. É um coração cheio de amor do Pai, cheio de modo divino e ao mesmo tempo humano. É verdadeiramente o coração humano de Deus-Filho. Um coração cheio de amor Filial: tudo o que Ele fez e disse sobre a terra, dá testemunho deste amor de Filho para com o seu Pai.

Por outro lado, este Coração amoroso revela continuamente o amor do Pai. Na verdade, “o Pai amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que n’Ele crê tenha a vida eterna” (Jo 3,16). O Coração de Jesus está cheio de amor pelas criaturas que somos nós e pelo nosso mundo. Está cheio! Uma plenitude que não se esgota, não tem fim.

O Amor é a plenitude do Coração de Jesus e desta plenitude todos nós recebemos graça sobre graça. Só precisamos que a medida do nosso coração se dilate e se disponha a participar na superabundância de amor que se derrama sobre nós como graça do Eterno Pai, como complacência com que o Pai se compraz em nós.

Pai Eterno
Abro o meu coração para acolher a tua complacência.
Que como chuva que desce do céu e fecunda a terra
A Tua graça desça abundantemente sobre mim
E me faça saborear o amor do Coração de Jesus.
Esse amor entregue até ao fim para me dar a Vida divina e
Me dar um coração capaz de amar com um amor humano e divino.
Esse amor que converte a minha vida em história de salvação
E testemunho verdadeiro da misericórdia do Pai.
Vem complacência do Pai
E faz com que o Coração de Jesus, Teu Filho amado,
Seja a terra firme onde ponho os pés no chão
Convertendo a terra árida da minha vida em
Sementeira de amor, de fé e esperança para os irmãos.