«Que feliz sou! Fui apanhada nas redes amorosas do Divino Pescador. Queria fazer-te compreender esta felicidade. Que feliz sou! Convido-te a entrar com Jesus no fundo da tua alma.»

Assim escrevia Teresa à sua irmã Rebeca, descrevendo o estado do seu interior. Tinha 15 anos. E fazia eco de um gozo profundo que crescia cada vez mais. Era algo mais que um sentimento adolescente. Era o fruto de um encontro pessoal com Deus, através de um trato de amistoso, íntimo e simples, com Ele.

Este trato íntimo e amistoso com Deus foi para Teresa dos Andes, igual a todo orante, uma descoberta da felicidade. E necessariamente lembra a todos o encontro da pérola preciosa do Evangelho, por cuja compra se vende tudo o resto.

Esta amizade de Teresa com Deus tem uma história, um princípio e uma continuação ao longo da vida até à sua morte. Tem logicamente uma experiencia profunda, como toda amizade séria. E Teresa quer comunicar a sua experiencia e convidar a todos a vivê-la, para serem felizes.

Teresa nasce a 13 de Julho de 1900 e dir-nos-á que quando tinha seis anos começou uma relação consciente e pessoal com Deus. É no seu diário que encontramos esta primeira confidência:

«Quando se deu o terramoto de 1906, pouco tempo depois Jesus começou a tomar posse do meu coração.»

A mãe de Teresa e a ama Ofélia eram de missa e comunhão diária. A precoce Joanita não compreendia porque é que ela participava na missa e não na comunhão. E não lhe faltava razão. E veio o pedido: Porque não podia comungar, ela que “chorava de desejos por receber Nosso Senhor”? A resposta foi rápida: «Não estava ainda preparada; e menos, com aquele temperamento».

Mas a ela tornava-se-lhe longa a espera. Um ano de preparação. E uma preparação séria em que era necessário deixar tudo o que tinha que deixar e aprender muitas coisas: «No mês do sagrado Coração, eu modifiquei o meu carácter por completo. Tanto, que a minha mamã estava feliz de me ver preparar tão bem a minha Primeira Comunhão».

E chegou o dia feliz tão esperado. Era o onze de Setembro de 1910. Nessa ocasião memorável começaria um diálogo orante em Teresa que durará durante toda a vida.

«Não é para descrever o que se passou na minha alma com Jesus. Pedi-lhe mil vezes que me levasse. E senti a sua querida voz pela primeira vez. Pedia-lhe por todos. E sentia a Virgem Maria perto de mim. Oh, quanto se dilata o coração! E pela primeira vez sentia uma paz deliciosa. Passou esse dia tão feliz que será único na minha vida. Jesus, desde este primeiro abraço, não me largou e tomou-me para Si. Todos os dias comungava e falava com Jesus muito tempo. Mas a minha devoção especial era a Virgem. Contava-lhe tudo. Desde esse dia a terra para mim não tinha atractivo. Eu queria morrer e pedia a Jesus que a oito de Dezembro».

«Desde que fiz a minha Primeira Comunhão, Nosso senhor falava-me depois de comungar. Dizia-me coisas que eu não suspeitava e ainda quando lhe perguntava, diziam-me coisas que iam acontecer e aconteciam. Mas eu continuava a acreditar que acontecia o mesmo a todas as pessoas que comungavam».

No dia 13 de Julho de 1915, ao completar os seus 15 anos, Teresa escreve uma séria reflexão orante no seu diário. Era uma data importante na sua vida. Ano em que as meninas se apresentavam à sociedade. Ela faz-se eco dos desejos de muitas pessoas acerca dessa idade: todas queriam que esses 15 anos fossem eternos, tanto as que já os fizeram como as que já os passaram.

Mas Teresa tem outros pensamentos, mais profundos, mais sérios, mais transcendentais: Dá-se conta dos dias da vida concedidos por Deus; sente-se criada e preferida entre milhares de seres; Deus prolongou-lhe gratuitamente a vida, estando abeira da morte. E pergunta-se: «Em que me ocupei nestes 15 anos? Que fiz eu para agradar a esse rei Omnipotente, a esse Criador misericordioso que criou? Porque me preferiu entre tantas criaturas?»

Perante estas meditações do passado eleva o seu olhar ao futuro. Não o conhece. Mas sim deslumbra no horizonte a sua meta: «Jesus correu a cortina e vislumbrei as formosas praias do Carmelo». Perante os seus desejos de morrer, Jesus diz-lhe que não lhe peça isso; e promete-lhe nove anos de vida no Carmelo.

Teresa dos Andes goza fazendo um balanço do que Jesus tinha sido para ela nestes 15 anos: um salvador, um libertador de tantos mares perigosos, o guia da sua barquinha. Separou-a de outras naves: «Conservou-me solitária com ele. Por isso, o meu coração conhecendo este capitão caiu no anzol do amor».

Nos seus momentos de oração, Teresa ressalta o aspecto eucarístico do seu encontro diário com Deus em Jesus: «Juntamente com este manjar escuto uma voz doce e suave como os ecos harmoniosos dos anjos do céu. Esta é a voz que me guia, que solta as velas do barco da minha alma para que não sucumba e para que não se afunde. Sinto sempre essa voz querida que é a do meu Amado, a voz de Jesus no fundo da minha alma; e nas minhas penas, nas minhas tentações, Ele é o meu consolador, Ele é o meu Capitão».

Teresa de Jesus dos Andes