Em Deus há uma geração contínua de vida e de amor: “Tu és meu filho eu hoje te gerei” e este movimento de amor eterno manifesta-se na nossa relação com o próprio Deus que nos faz participar na circulação do amor divino.

«É o próprio Pai que vos ama porque vós me amaste e acreditaste que saí do Pai.» Porque é o próprio Pai que nos ama e esconde em Deus é um amor dinâmico onde participam os Três e é a própria acção dos Três sofrida pela esposa-amada, que a esconde em Deus. A amada vive com o Amado escondida em Deus, na acção do Espírito que ‘sofre/experimenta’ em si; na acção do Pai que a esconde em Si; no Amado que a sustenta em Si.

Na acção do Espírito que ‘sofre/experimenta’ em si:
«o Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos o que havemos de pedir, para rezarmos como deve ser; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que examina os corações conhece as intenções do Espírito, porque é de acordo com Deus que o Espírito intercede pelos santos.» (Rm 8)

Na acção do Pai que a esconde em Si:
«Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados, de acordo com o seu desígnio. Porque àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que Ele é o primogénito de muitos irmãos. E àqueles que predestinou, também os chamou; e àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou.» (Rm 8, 28-30)

Pai Eterno
conheci que eras meu Pai
quando me escondestes
na Cruz com Jesus.
Escondestes-me aí nessa imensidão de amor
e nesse abandono de todas as criaturas
e de tudo o terreno.
Fiquei suspensa na Cruz
apenas com o Crucificado
E Tu Pai realizavas secretamente a Tua obra.
Sim, Pai
como é doce escutar do Teu Espírito de Santidade:
«Tudo sucede para bem dos que amam a Deus,
daqueles que são chamados,
segundo Sua vontade».
Era a tua vontade que me “crucificava”
que me “escondia”
n’Aquele que veio apenas para fazer a Tua vontade.

Mas a Tua acção, Pai,
é contínua geração de amor
e não bastava esconderes-me no Crucificado.

O resgate continuaria até
me dizeres que me tiraste de todo
para fora de mim mesma e que:
«Não sou eu que vivo
é Cristo que vivo em mim».
E isto aconteceu quando
a janela da minha alma se abriu
e pude ver que estava na inteiramente
nas Tuas mãos –
que nada em mim existia fora de Ti –
porque àqueles que conheceste
Tu os predestinastes para serem uma
imagem idêntica à do teu Filho.

Ó Pai, o Teu amor vem até mim
como esta obra de configuração,
num dinamismo vital
que vai trocando a minha vida e
transformando o meu viver.
Predestinastes-me e por isso chamastes-me;
ousastes chamar-me e justificas-me
e porque me justificas
manifestas em mim a Tua glória.

Pai, a minha alegria está em
manifestares Tu mesmo, em mim, a Tua glória.
Assim poderei permanecer sempre pequena,
sempre entregue à tua acção criadora.
Tu, Pai, tomaste tudo!
E tudo fazes estar neste divino Amor,
com que te fazes meu Pai e me Amas,
com que me dás a Tua vida e
me unes a Ti em Cristo,
no Amor do Espírito.

Diante deste Amor
eu ‘entrego-me/abandono-me’ de todo a Ti,
à Tua amorosa acção criadora,
para que continues a esconder-me em Cristo,
segundo a Tua vontade,
até que só haja Cristo em meu viver.

 

No Amado que a sustenta em Si:
Que mais havemos de dizer? Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós? Ele, que nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele?

Quem irá acusar os eleitos de Deus? Deus é quem nos justifica! Quem irá condená-los? Jesus Cristo, aquele que morreu, mais, que ressuscitou, que está à direita de Deus é quem intercede por nós.

Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?

A tribulação, a angústia,

a perseguição,

a fome, a nudez,

o perigo, a espada?

De acordo com o que está escrito:

Por causa de ti, estamos expostos à morte o dia inteiro,

fomos tratados como ovelhas destinadas ao matadouro.

Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores,

graças àquele que nos amou.

        Estou convencido de que nem a morte nem a vida,

nem os anjos nem os principados,

nem o presente nem o futuro,

nem as potestades,

nem a altura, nem o abismo,

nem qualquer outra criatura

poderá separar-nos do amor de Deus

que está em Cristo Jesus, Senhor nosso.» (Rm 8)

«Quem poderá separar-nos do amor de Deus? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?» Esta realidade de perseguição vivida por cada pessoa converte-se na plena garantia de que o Pai está a “gerar” nela o Verbo. É como se o Pai “pegasse”, no Cristo que vive no interior de cada um de nós, nas suas próprias mãos e o estivesse a recriar, e temos conhecimento interior deste toque, desta carícia do Pai para com o Seu Unigénito no íntimo da alma. Isto “liberta” do poder destruidor da perseguição e converte-o em força criadora do Amor. A perseguição exterior converte-se em carícia divina, enquanto acção amorosa do Pai a gerar do Verbo.

Isaías fala desta realidade do Amado sustentar em Si cada pessoa que ama desde a categoria de resgate. O Amado resgata a amada e chama-a pelo nome, porque ela desde sempre pertence-Lhe, já que Ele a criou e a formou. E porque ela Lhe pertence nada a pode separar Dele.

«E agora, eis o que diz o Se­nhor, o que te criou, o que te formou: «Nada temas, porque Eu te res­gatei, e te chamei pelo teu nome; tu és meu. 2Se tiveres de atravessar as águas, estarei contigo, e os rios não te submergirão. Se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e as chamas não te consumirão. 3Porque Eu, o Senhor, sou o teu Deus; Eu, o Santo de Israel, sou o teu salvador. Entrego o Egipto por teu resgate, a Etiópia e Seba em troca de ti. 4Visto que és precioso aos meus olhos, que te estimo e te amo, entrego reinos em teu lugar, e nações, em vez da tua pessoa. 5Não tenhas medo, que Eu estou contigo.» Isaías 43, 1-5

Este amor é tão dinâmico e de comunhão tão intensa com os Três que ao ser amada por Um a pessoa vê-se na presença dos Três. O estar escondida em Deus é na sua essência transformação de amor. A graça invade a ordem do ser e trata-se de um movimento de vida e amor divinos que se apoderam da amada na totalidade do seu ser e a fazem permanecer na presença de Deus. A presença de Deus é em si mesmo “esconderijo”.

 

Desde o Pai contemplamos o esplendor do Verbo. E desde o Verbo a perfeição infinita do Pai. O Pai atrai-nos para Cristo e Cristo atrai-nos para o Pai. Assim somos introduzidos no eterno movimento de amor do Pai e do Filho e somos selados pela presença do Espírito de amor que consuma a unidade. Faz-nos viver pela graça ‘em unidade’, num contínuo crescendo, com a Trindade. Jesus fala-nos desta realidade quando diz: «Ninguém vai ao Pai senão por mim… Ninguém vem a mim se o Pai que me enviou não o atrair» (Jo 14,6; Jo 6,44). É como se Ele nos quisesse dizer: não podereis ir a meu Pai senão pelo Amor que me une a Ele, e, não podereis vir a mim se meu Pai não vos ‘arrastar’ neste amor que o faz sair de Si para me ‘gerar’ a mim. E este movimento de amor se consuma na unidade do Espírito Santo. O Amor com que somos amados é sempre o amor do Pai e do Filho. Conhecer este amor é fonte de alegria inefável. É o ‘sentir do espírito’ que nos diz que somos acompanhados pelos Três, mas que nos centra na fonte, a ‘origem sem origem’, o Pai.

 

Ao sermos amados por Deus e ao amarmos a Deus somos levados pelo Espírito de Amor neste movimento divino que faz alegria de Deus e a nossa. Faz-nos habitar na casa de Deus: «Na verdade, a tua bondade e o teu amor hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do SENHOR para todo o sempre» Sl 23 e ser família de Deus: «3o que nós vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco. E nós estamos em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Escrevemos-vos isto para que a vossa alegria seja completa (1Jo 1,3-4)».

«Levanta-te Jerusalém sobe às alturas e vê quanta alegria te vem do Teu Deus.» Levantar-se em amor é subir às alturas e atrair os Três nas suas missões específicas sobre nós e receber esta nova aspiração de vida divina, esta corrente de luz e de amor, que “nos faz ver quanta alegria nos vem do nosso Deus”. Alegria da nossa alma ser esposa do Espírito Santo, de sermos recriados no Verbo e nos tornarmos mães do Verbo que habita no irmão, mães do corpo de Cristo. «O Senhor está sempre na minha presença, com Ele a meu lado não vacilarei. Por isso o meu coração se alegra e o meu espírito exulta e até o meu corpo descansa tranquilo.» Sl 15, 8-9

«Grita bem alto e canta de alegria, porque é grande no meio de ti o Santo de Israel.» Is 12,6
«Rejubila, filha de Sião,
solta gritos de alegria!
Alegra-te e exulta com todo o coração,
filha de Jerusalém!
O SENHOR revogou as sentenças contra ti,
e afastou o teu inimigo.
O SENHOR, rei de Israel, está no meio de ti.
Não temerás mais a desgraça.
Naquele dia, dir-se-á a Jerusalém:
«Não temas, Sião!
Não se enfraqueçam as tuas mãos!
O SENHOR, teu Deus, está no meio de ti
como poderoso salvador!
Ele exulta de alegria por tua causa,
pelo seu amor te renovará.
Ele dança e grita de alegria por tua causa,
como nos dias de festa.»
(Sof 3, 14-18)

Vem Senhor Jesus, que te esperamos!