Jesus, entras na Tua Quaresma,
são quarenta dias cheios do mistério divino.
Quarenta dias para que o Deus que de Ti,
no Jordão dá testemunho,
faça agora de Ti Seu sacramento.

É a força das tentações
a revelar o Mistério,
porque diante do inimigo,
Tu apresentas a Palavra
como Teu único ministério.

Por três vezes és tentado
e pergunto-me: não será isso a plenitude da tentação?
Mas três vezes, Senhor, Tu nos dizes
qual é a tua missão:
«Eis que venho, ó Pai, para fazer a tua vontade».

E a Tua Quaresma continua,
continua no ‘Caminho Sagrado’,
naquele Caminho que faz da Cruz a porta para o Amor.

E no início deste Caminho,
Tu chamas-nos ao deserto para nos falares ao coração –
para dares testemunho da Tua verdade
no íntimo do nosso ser.

Aí vejo que nos dizes:
«O meu Reino não é deste mundo».
E diante da condenação abraças a Cruz com amor
e ao abraçá-la abraças-me a mim e ao meu irmão pecador.
Tu levas-nos conTigo, neste Caminho Sagrado
e já não nos levas a Teu lado,
mas levas-nos dentro de Ti.

Decidiste oferecer-nos ao Pai
e fizeste-te o Cordeiro Imolado
a vítima em que o sacrifício é consumado.

Mas neste Caminho Sagrado
há um mistério que nos prende cativos:
é o ver-Te de rosto por terra
com o peso do nosso pecado.

Na primeira vez,
porque andávamos como ovelhas sem pastor,
perdidos e sem caminho
e Tu fazes-Te nosso destino
e chamas a cada um de nós de peregrino.

A segunda vez,
vemos-Te como homem de dores,
acostumado ao sofrimento,
a Quem se despreza e se volta o rosto.
Mas as Tuas Chagas são os sulcos abertos
na terra fértil do teu corpo,
em que somos enxertados,
redimidos do mal
e revestidos da graça original,
pelas Tuas Chagas somos curados.

A terceira vez,
o peso da Cruz parece esmagar-Te
porque Tu não Te vales da Tua igualdade com Deus,
mas obedeces até à morte.

Ver-Te aí, meu Jesus, de rosto por terra,
não é de maneira nenhuma o fim,
porque escuto que aí me dizes:
«Quando for levantado da terra atrairei todos a mim».

Ó meu divino Senhor,
neste Caminho Sagrado,
se tivesse de escolher entre o Tabor e o Calvário,
escolhia o Calvário
para estar aí conTigo
porque foi por mim que escolheste estar aí.
Foi aí que pagaste o preço do meu resgate
e me ensinaste o que é a Quaresma.

A Quaresma é a vida,
no deserto do coração vivida,
rumo à Jerusalém celeste,
onde a alma de fé, esperança e
de amor se reveste
para chegar aquele lugar Alto,
para onde Tu a chamas,
à União de Amor.

Assim ao Alto levantado
atrai com toda a intensidade
este pobre coração,
para o deserto da Quaresma
onde a graça nos conduz
a uma Eterna Aliança
e nos faz viver a ‘páscoa da vida’
com alegria e esperança.