«Tão querido Lucho»

«Tão querido Lucho» manifesta todo o afecto de Teresa pelo seu irmão Luís. O apelativo querido predomina nas suas cartas juntamente com outras expressões que indicam o grande carinho que existia entre estes dois irmãos.

Ambos estão unidos por Maria Santíssima

«Por esta altura tem inicio a minha devoção à Virgem. O meu irmão Lucho deu-me esta devoção, com a que fiquei e ficarei, assim espero, até à minha morte. Todos os dias Lucho convidava-me para rezar o terço, e fizemos juntos a promessa de o rezar toda a nossa vida, o que cumpri até agora. Só me esqueci uma vez, quando era pequena.»

A separação dos irmãos

«Tão querido Lucho falo-te de coração a coração. Neste momento experimento toda a dor da separação. Quero-te como nunca te quis antes. Poucos irmãos existirão que sejam tão unidos como nós os dois. Porém, digo-te adeus. Sim, é preciso que diga esta palavra tão cruel, por um lado; mas não é assim, se vemos bem o que dizemos: “A Deus”. Lucho querido, em Deus viveremos sempre unidos. Em Deus estarei sempre contigo».

Luz e amor

Meses mais tarde a dor continua e por isso com muito carinho e ideias mais claras vai procurar despertar a luz e o amor no seu irmão atribulado.

Primeiro luz:

Era necessário fazer luz naquela cabeça cheia das leituras filosóficas da época. Teresa desde a sua profunda experiencia de Deus no Carmelo, quer comunicar a certeza palpada da existência desse Deus, como um fogo de amor abrasador. Porque Deus não é objecto de filosofias, mas de vida e fé experimentada. Ele é amor. E o amor não se fecha em raciocínios. Amor vive-se:

«Eu já estou sumida em Deus. O seu amor é a vida da minha alma. Quero elevar-te até Ele; quero comunicar-te, querido irmãozinho, um pouco do fogo em que me abraso; quero aquecer-te com esse calor infinito, para que tenhas vida. De ti só quero a boa vontade. Deixa-me, Lucho querido, ser a tua guia. Quem pode desejar-te maior e melhor bem que a tua carmelita?»   

«Tu dizes que serás bom por mim. Isto não to permito. Não podemos agir movidos por uma frágil criatura. Ama e faz o bem para possuir eternamente o Bem imutável, o Bem infinito, o único que pode encher e satisfazer a tua vontade. Que posso eu? Nada. Absolutamente nada. Une-te a mim nas tuas acções diárias, para que nos nossos actos não exista outro motor além de Deus.»

Depois o Amor:

Também era necessário curar o coração ferido que punha em dúvida a amizade da sua irmã.

«Dizes-me que te assegure sempre nas minhas cartas que te quero sempre como irmã. Duvidas disso? Por acaso não sabes que o meu coração está aperfeiçoado pelo amor divino, e, quanto mais perfeito é, maior e de melhor qualidade é o amor? Assim pois, não duvides que em todo o momento peço por ti e a oração é o maior canto de amor.»

Na verdade, nem o convento nem a felicidade que ali encontrou podem fazer passar ao esquecimento os seres queridos, pelo contrário, ela recorda-se deles para os fazer participar da sua felicidade.

«Lucho, querido, apesar da distância que nos separa a minha alma está sempre unida à tua. Ambas formam uma só, não é verdade? Oh! Se pudesses, por um momento sentir-te cheio de felicidade, como eu me sinto! Acredita que pergunto a cada momento se estou no céu, pois vejo-me envolvida numa divina atmosfera de paz, de amor, de luz e alegria infinitas. Mas nem isso me faz esquecer de ti. Seria egoísmo da minha parte. Quando me encontro só no meu quarto ou no coro, abro o meu coração ao bom Jesus, e apresento-Lhe todos aqueles que amo, e, não Lhe digo mais nada porque Ele sabe tudo e Ele ama-me. Não chores. Sou feliz.»

Faz oração

Oração ao estilo carmelitano: pensando em Deus e conversando com Ele, num clima de amizade.

«Lucho, faz oração. Pensa tranquilamente quem é Deus e quem és tu, e tudo o que lhe deves. Depois das aulas passa por uma Igreja, onde Jesus solitário te fale ao coração, num misterioso silêncio. Une-te a mim. Ás cinco eu estou em oração.»

Teresa de Jesus dos Andes