Santa Teresa vive a amizade em profundidade. Teve um coração grande, feito para amar. Sabia que o seu coração precisava de amar sem limites e por isso soube gozar da amizade. Era amável com todos. Quando encontrava pessoas que pensavam como ela o seu coração descansava. Sentia que tinha encontrado um espaço aberto ao infinito. E quando deu com o Amor infinito, a sua alegria tornou-se infinita. O seu amor encontrou asas para voar até ao infinito. Nasceu para amizades profundas, na esfera humana e divina, e as festas sociais não conseguiam preencher o abismo do seu coração, estava feita para mais.

Depois das amizades profundas da família, pais, irmão Luís e irmã Rebeca, vêm as suas amigas íntimas que viveram a mesma experiencia de amizade com Teresa.

Amizade com o Pai

O carinho que manifesta a seu pai vai crescendo com o tempo e assume uma perspectiva diferente, passa de um amor filial a um amor de amizade adulta.

«Paizinho, como corre o seu trabalho? E as colheitas foram boas? Não sabe como rezo pelo bom êxito das colheitas. Espero que Deus nos escute, porque a Santíssima Virgem a quem pus por intercessora, nada nega. O mesmo se diga de S. José, a quem estou a rezar pelo meu querido Pai. Por favor, conte-me tudo, porque ainda que não o possa consolar, serve ao menos para desabafar. Não sabe como me sentiria feliz se o fizesse. É tão grato para uma filha partilhar dos sofrimentos do seu pai, ser o apoio e o sustem no áspero caminho da vida daquele a quem, depois de Deus, se deve tudo.»   

Para animar o seu pai a procurar a fonte da felicidade, no meio de tantos problemas que o assaltam, Teresa quer introduzi-lo nos caminhos da amizade divina, que ela vive e a faz feliz:

«A sua carmelita vê os dias passarem tranquilamente. Nada pode perturbar a sua paz, a sua dita, porque tem em si a fonte da paz. Com Deus, paizinho, é com quem vivo um céu já na terra. Entre Jesus e a sua carmelita há uma intimidade tão grande, que as uniões aqui na terra são apenas uma sombra; e à medida que O conheço, mais O amo, porque vou sondando no seu coração um abismo de infinito amor. Por isso, meu paizinho querido, sinto a necessidade de O levar até Ele. Queria que Jesus fosse o seu amigo íntimo, em quem depositasse o seu coração cansado e cheio de sofrimentos. Ah, paizinho, como a sua vida se transformaria, se fosse a Ele com frequência como a um amigo! Por acaso pensa que Jesus não o receberia como um amigo? Se tal coisa pensa é porque não o conhece. Ele é todo ternura, todo amor para as suas criaturas pecadoras. Ele mora no sacrário com o coração aberto para nos receber e guarda-nos ali para nos consolar. Meu paizinho querido, quantas vezes não me disse o quanto se sentiu feliz ao ir comungar! É porque então a sua alma, livre de todo o peso, sentiu a presença de Deus, o único capaz de nos satisfazer.»

Depois da morte de Teresa, o seu pai vive uma forte conversão e nos seus últimos anos era frequente vê-lo comungar quase diariamente e a rezar o rosário.

Amizade com a Mãe

Enquanto a sua correspondência com o pai trata dos problemas do campo, com a mãe tratará da vida espiritual, que ela vive no Carmelo e que sua mãe está interessada em aprender a viver.

«Não imagina o quanto gozo com as suas cartitas. Todas me dizem que os sentimentos divinos da minha alma encontram eco na da minha querida mãezinha. Quanto agradeço ao meu bom Jesus por me ter dado uma mãe como a que tenho, uma mãe que só olha aos interesses divinos! Amemos, mãezinha, a esse Jesus!

Unido ao tema da espiritualidade está o tema da família, Miguel, o filho boémio. À preocupação da sua querida mãe responde:

«Em relação ao que me diz do Miguel, deu-me muita pena e rezo muito por ele. Já sabe que vim ao Carmelo para o converter. O Sagrado Coração de Jesus fará tudo para Sua glória». 

Teresa quer comunicar à sua mãe a experiencia de um Deus amor que liberta de todos os temores:

«Acredite que, a mim, a Paixão de Jesus Cristo é o que melhor me faz à alma: o amor aumenta em mim ao ver quanto sofreu o meu Redentor; o amor ao sacrifício, ao esquecimento de mim mesma. Serve-me para ser menos orgulhosa. Impele-me na total confiança no meu Mestre adorado que sofreu tanto por me amar. A confiança é o que mais agrada a Jesus. Lancemo-nos com as nossas faltas e pecados no abismo, no oceano de misericórdia. Jesus compadece-se das nossas misérias; conhece a fundo o nosso pobre coração, assim mãezinha querida não tema que o temor seca o amor.»

Teresa compreendeu de forma vivencial que Deus é Amor e misericórdia, dois aspectos simbolizados no Coração de Jesus, e sente necessidade de partilhá-lo com a sua mãe:

«Mãezinha querida, compreendi aqui no Carmelo a minha vocação. Compreendi como nunca que havia um Coração, que eu não conhecia nem honrava. Mas agora Ele iluminou-me. Nesse divino Coração encontrei o meu centro e a minha morada. A minha vocação é o fruto do seu amor misericordioso.»

Teresa de Jesus dos Andes