Neste mundo conturbado pelas guerras, os ódios, as violências, a tecnologia desumanizantesentimos a falta de uma chave de compreensão para fazer a leitura da realidade. Uma chave que nos liberte do medo que nos paralisa e nos lance no caminho da esperança e da confiança em Deus. A esperança e a confiança fazem toda a diferença porque nos lançam para o horizonte infinito de Deus. E confiar em Deus significa ter um coração humilde e mãos abertas à espera de serem cheias de Deus e do seu amor.
Nos últimos tempos, ao olhar para o mundo, o Espírito Santo tem feito ressoar no meu coração as palavras dos Actos dos Apóstolos: “vede como Eles se amam”. Estas palavras são aplicadas à comunidade dos primeiros cristãos, porém não foram eles os primeiros a vivê-las. Quem primeiro as viveu, nesta terra, foi a Sagrada Família de Nazaré, como dom de Deus que é família: Pai Filho e Espírito Santo.
«Vede como eles se amam», podíamos traduzir esta expressão por “vede como eles se ajudam” ou “vede como eles se compreendem” ou “vede como eles se entregam uns aos outros”… Mas, na verdade, “vede como eles se amam” é a mais perfeita de todas porque nos leva á raiz da família, leva-nos ao amor que é dom e se oferece como vida e felicidade para o outro.
O amor, já nos dizia S. Paulo, é paciente, é serviçal, desculpa tudo desde o íntimo do coração e sem rancor. O amor tudo acredita, tudo suporta, tudo compreende, porque o Amor não tem limites e nunca acabará. O Amor é eterno.
Olhemos para a gruta de Belém, com esta chave de leitura: “Vede como eles se amam” e poderemos compreender como o nosso mundo e a nossa vida podem ser diferentes.
Vemos uma gruta que não é uma casa confortável e cheia de comodidades, mas um lugar frio e escuro, aquecido pelo bafo dos animais e iluminado pelo fogo, porém é um lugar aquecido pelo calor humano do Amor.
Vemos Maria ser Mãe sem as condições ideais para o seu Filho, sem bercinho. Sem ninguém para auxiliar nos trabalhos de parto, sem consultas periódicas para acompanhamento do desenvolvimento da criança. Mas é uma maternidade cheia de confiança em Deus, cheia da certeza íntima de está a viver o cumprimento da promessa, que diz que Deus está ali. É a maternidade feita dom de Amor, porque só se vê bem com o coração e só o amor nos faz conhecer a Deus, porque Deus é Amor.
Vemos José o homem da dúvida, o homem que tem a responsabilidade da mulher e do Filho e não é capaz de lhes dar senão uma gruta, por não haver lugar para eles na hospedaria. Contudo é surpreendente, porque diante das dificuldades reais José não se lamenta, nem se perde em queixumes, mas faz silencio e reza, confiando na luz que vem do Alto e pedindo a Deus que mostre o caminho a seguir. José transforma os obstáculos e dificuldades em oportunidades de Deus se manifestar e mostrar a Sua força, a Sua luz, o Seu amor. José faz das dificuldades o lugar onde Deus manifesta o sentido novo da vida, enchendo-a de esperança e de paz.
O Menino, o verdadeiro Deus e o verdadeiro homem, o Deus connosco. Que desconcerto! Um Deus, Rei do céu e da terra, num curral de animais, deitado em palhas, escondido na aparência duma criança indefesa, totalmente dependente da mãe e do pai.
O desafio está em olharmos para o presépio e vermos como eles se amam e depois aprendermos a pôr amor onde não há amor, para o podermos encontrar. Este foi o mistério do Natal. Deus veio ao mundo trazer o amor. Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu o Seu Filho Unigénito, para que vivamos n’Ele e permaneçamos no Seu amor.
Neste Natal, olhemos demoradamente para o Presépio, para Maria, Jesus e José e vejamos, com o coração iluminado pela luz da fé, como eles se amam e como o seu amor transforma tudo. Que também nós possamos transformar todas as coisas em amor, em confiança em Deus, em paz e esperança, fonte de alegria!
As Irmãs do Carmelo de Cristo Redentor desejam a todos umas santas festas de Natal e um abençoado Ano de 2024, vivido sob a protecçãomaterna da Virgem Santa Maria, mãe de Deus e nossa Mãe.
Carmelo de Cristo Redentor