«Na montanha do Carmelo, no silêncio, na solidão, numa oração que nunca acaba, porque tem continuidade em tudo, a carmelita vive já como no céu: “de Deus só”. Ele nunca a abandona, antes permanece na sua alma. Ainda mais, os dois não são mais que um. Por isso está faminta de silêncio para o escutar continuamente e penetrar cada vez mais a fundo no seu ser divino. Identificada com o seu Amado, encontra-O em todas as partes e vê-O resplandecer em todas as coisas! Não é isto o céu na terra?».

«Eis aqui toda a vida do Carmelo: viver n’Ele! Então todos os sacrifícios, todas as imolações se tornam divinos, a alma vê em todas as coisas a quem tanto ama e tudo a leva a Ele: é um diálogo ininterrupto».

Não posso imaginar que cantinho do paraíso é o Carmelo! No silêncio e na solidão vive-se aqui a sós com Deus. Tudo fala Dele, tudo reclama e faz sentir a sua presença. A oração é aqui a nossa principal, deveria dizer, única ocupação, porque para uma carmelita nunca deveria cessar».

«A vida da carmelita é uma comunhão com Deus, de manhã até à noite e da noite até amanhã. Se Ele não enchesse as nossas celas e os nossos claustros, que vazio estaria tudo! Mas nós vemo-Lo em tudo, porque o temos em nós».

«Que bem se está no Carmelo! É o melhor país do mundo e posso dizer que sou tão feliz como um peixe dentro de água». «Encontrei o meu céu na terra nesta querida solidão do Carmelo».

Isabel delineou numa das suas poesias mais belas o perfil  inteiro da carmelita. Assim escreve ela:

«A carmelita é uma alma que se dá,
É uma alma que se imola pelo seu Deus,
Vive crucificada com o seu Cristo,
Mas, que luminoso é o seu Calvário!
Contemplando a Vítima divina,
Centelhas de luz brilham na sua alma;
Compreende então a sua missão divina
E o seu coração grita: “Eis-me aqui”.

A carmelita é uma alma cheia de Deus.
Possui a Cristo para comunicá-LO sem cessar.
O Senhor a escolheu, como a Maria
Para estar imóvel a seus pés.
Olhai esta eterna prisioneira:
A sua vida de oração nunca se interrompe.
É uma alma encadeada a Cristo
E nada a pode distrair Dele.

A carmelita é uma alma cerrada
Às coisas caducas e passageiras;
Mas é uma alma aberta e luminosa,
Para intuir as coisas invisíveis.
A Águia divina leva-a
Até aos cumes sublimes e esplendentes
E guarda-a na casa do Pai
Para fundi-la na unidade de Deus.

A carmelita vive horas de felicidade,
Da fé recebe uma luz esplendorosa,
Submergida no silêncio e solidão
Imprime-se nela a imagem “dos Três”.
É uma alma predilecta de Deus,
Eleita por Ele desde a eternidade
Para o Carmelo, montanha luminosa,
Iluminada por Deus com os seus raios».

«A Carmelita é o sacramento de Cristo. O nosso Deus Santíssimo deve dar-se através dela, o Deus crucificado todo amor.  Mas para o comunicar assim, há que se deixar transformar numa mesma imagem unida a Ele. É necessária a fé que contempla e ora sem cessar. Ao fim, a vontade fica cativa e não se separa mais Dele. O coração verdadeiro, puro e exultante sob a bênção do Mestre». 

Isabel da Trindade