O profeta Isaías convida-nos a olhar para esta festa desde três traços muito bonitos: a alegria, a luz e a intimidade com Deus.

Todos temos necessidade de sentir a alegria que nasce no íntimo da nossa alma e que tem sabor a eternidade. «Todos vós que ten­des sede, vinde beber desta água. Mesmo os que não tendes di­nheiro, vinde, comprai trigo para comer sem pagar nada. Levai vinho e leite, que é de graça. (…) Se me escutardes, havereis de co­mer do melhor, e saborear pratos deliciosos. Prestai-me atenção e vinde a mim. Escutai-me e vivereis. Farei convosco uma aliança eterna (…) Sim, saireis radiantes de alegria, e sereis reconduzidos em paz à vossa casa.» Is 55, 1-2.12.

Esta alegria nasce da aliança que Deus celebra com a nossa vida. E pela aliança que Ele celebra connosco faz-nos viver em Natal. Ele dá-nos água e pão, vinho e leite.

A água que sacia a sede; que nos purifica e nos eleva acima das realidades que nos impedem de beber e saborear o manancial puro que sacia o nosso coração e o abre mais ao mistério. E que atenua todos os sabores pouco purificados dos sentidos que não nos deixam gozar do dom de Deus.

O pão que é o seu próprio Corpo. O «Pão Vivo descido do céu» como alimento de vida divina. O vinho que alegra o coração (Sl 103, 15) e o leite da doçura que é a flor da alegria, porque alcançamos a terra da promessa que é o próprio Deus feito Menino. O Deus-Menino é a doçura e por isso a alegria. Aqui estão os pratos deliciosos que Deus nos quer dar a saborear. Vemos como a própria alegria é a flor da doçura que Deus nos quer dar a saborear. Vemos como este é o sabor que deve temperar todos os outros que constituem os nossos dias. É o Espírito Santo que nos fará descobrir alegria escondida em cada um dos momentos da nossa vida. E todos estão repletos de alegria da presença de Deus.

 

A Luz

«Levanta-te e resplandece, Je­ru­salém, que está a chegar a tua luz! A glória do Senhor amanhece so­bre ti! Olha: as trevas cobrem a terra, e a escuridão, os povos, mas sobre ti amanhecerá o Se­nhor. A sua glória vai aparecer sobre ti. As nações caminharão à tua luz, e os reis ao esplendor da tua au­rora. Levanta os olhos e vê à tua vol­ta: todos esses se reuniram para vir ao teu encontro. Os teus filhos chegam de longe, e as tuas filhas são transpor­ta­das nos braços. Quando vires isto, ficarás radiante de alegria; o teu coração palpitará e se dila­tará, porque para ti afluirão as rique­zas do mar, e a ti virão os tesouros das na­ções. Serás invadida por uma multi­dão de camelos, pelos dromedários de Madiã e de Efá. De Sabá virão todos trazendo ouro e incenso, e proclamando os louvores do Se­nhor.» Is 60, 1-6

Que saudação bonita nos dirige o Deus feito Menino: «Levanta-te e resplandece, que está a chegar a tua luz! A glória do Senhor amanhece sobre ti!» Ela evoca a que o Esposo faz à esposa do Cântico dos cânticos: «Levanta-te e vem».

Na verdade, não seria possível entrar na morada de Jesus, beber da sua água e comer do seu pão, beber do seu vinho e deixar-se fortalecer pelo Seu leite se antes Ele não nos tivesse conduzido a essa luz.

Quanta Luz Ele não tem derramado sobre nós! Damos graças a Deus por toda a Luz que podemos partilhar, que podemos testemunhar e receber. Este é um momento de acreditar na luz, de reconhecer toda a luz e de agradecer. Nós não temos outra maneira de manifestar a luz senão experimentando a “força da palavra”. Saboreando a “palavra na sua pureza” pela “obediência da fé”. Deixando que ela dê frutos em nós para reconhecermos nela a plenitude da graça e da verdade. A mesma plenitude que tem o unigénito do Pai, porque da sua plenitude todos recebemos graça sobre graça.

É esta luz que nos fará levantar os olhos e ficar radiantes de alegria, que fará o nosso coração palpitar e dilatar-se, por que pela Palavra nos virão todos os bens. «Todos os bens me vieram juntamente com ela e das suas mãos recebi um riqueza incalculável… Ela é para os homens tesouro inesgotável, e os que dele se aproveitam tornam-se participantes da amizade de Deus» (Sab 7, 11.14)

O nosso coração dilatar-se-á porque esperamos na grandeza do Senhor. Ele virá “sobre nós”, “nascerá para nós” e nos confirmará com a sua Palavra.

Mas a alegria e a luz conduzem a um dom divino ainda maior, mais nosso, porque está todo dentro de nós, no nosso interior e gozaremos dele na intimidade. O Deus Menino que nos atraiu com a Sua alegria, nos chamou com a Sua Luz e nos oferece os seus dons quer morar de tal modo em nós que cheguemos a viver a Sua própria vida. Diante disto não podemos senão fazer nossas as palavras do profeta e cantar jubilosamente: «Rejúbilo de alegria no Senhor, e o meu espírito exulta no meu Deus, porque me revestiu com as ves­tes da salvação e me envolveu num manto de triun­fo. Como um noivo que cinge a fron­te com o diadema, e como uma noiva que se adorna com as suas joias» (Is 61,10)

Este é o nosso canto de gratidão porque o Deus feito Menino nos vem revestir com túnica lavada no Sangue do Cordeiro e encher-nos da Sua beleza. Porque Ele se entregou por nós no mistério da Encarnação Redentora, a nossa veste é a Sua santidade e Ele convida-nos a viver a vida de Deus. Pelo seu sangue derramado por nós e sobre nós, estamos unidos ao Deus que assume a nossa vida e o nosso ser com laços de amor humano e vínculos de amor eterno. Somos irmãos do Deus Menino e filhos do Eterno Pai, que é o Rei dos céus e da terra.

«Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adopção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: “Abbá! – Pai!” Deste modo, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro, por graça de Deus.» (Gl 4, 4-7)

 Deixemos que no final da festa da Epifania do Seu amor por nós o Deus Menino, nascido no presépio de Belém, reze em nós o Seu próprio mistério e nos diga ao coração:

«Por amor de ti, não me calarei,
por amor de ti, não descansarei,
até que apareça a aurora da tua justiça,
e a tua salvação brilhe como uma chama.
As nações verão a tua justiça, e todos os reis, a tua glória.
Dar-te-ão um nome novo, designado pela boca do Senhor.
Serás como uma coroa brilhante nas mãos do Senhor,
e um diadema real nas mãos do teu Deus.
Não serás mais chamada a «De­samparada»,
nem a tua terra será chamada a «Deserta»;
antes, serás chamada: «Minha Di­­lecta»,
e a tua terra a «Desposada»,
porque Eu elegi-te como preferida,
e a tua terra receberá um esposo.
Assim como um jovem se casa com uma jovem,
também te desposa aquele que te reconstrói.
Assim como a esposa é a alegria do seu marido,
assim tu serás a alegria do teu Deus.»

Que este Natal sejamos nós alegria do nosso Deus, porque Ele fez-se um connosco e um de nós para nos dar o Seu amor!

Santas e Felizes Festas do Natal do Deus nosso Salvador!