Por volta dos 14 anos senti vocação para a vida religiosa. Vivia com os meus avós maternos e quando comecei a falar à minha avó em ser freira procurava sempre dissuadir-me, mas um dia já cansada com a minha insistência disse: “Se queres ir vai, mas eu não te quero ver ir”. Pedi a uma amiga para perguntar às Irmãs do Sagrado Coração de Maria se me recebiam no lar onde ela estava. E disseram que sim. Saí um dia muito cedo enquanto a minha avó rezava o terço na Igreja. Ao chegar a casa viu que eu lhe tinha pegado na palavra. Pôs logo o Regedor e a polícia à minha procura mas não me encontraram. Insistia com o meu avô para me ir buscar, mas ele recusava-se. Pediu à minha mãe e ao meu padrasto e eles foram, mas depois de um telefonema para a minha avó esta disse-lhes que me deixassem ficar porque voltaria a ir.

As Irmãs, depois de algum tempo, enviaram-me para o colégio de Nossa Senhora do Rosário, no Porto, onde estive quatro anos. Depois era já altura de ir para o Noviciado, mas entretanto, convidaram um sacerdote para fazer um retiro de discernimento vocacional e falou-nos sobre o matrimónio, a vida religiosa: activa e contemplativa e leigas consagradas. Porém, ao falar da vida contemplativa fê-lo com tal encanto que me deixou entusiasmada. Era mesmo isso que eu desejava mas desconhecia. Pedi à Irmã responsável pelas candidatas para ler o livro que falava sobre os diferentes carismas das Ordens e Institutos Religiosos e após ter lido o carisma do Carmelo fechei o livro e disse à Irmã que era isto mesmo que eu ansiava. A própria Irmã me confirmou ser também o seu parecer e logo me indicou onde estava situado o Carmelo e passados poucos dias já estava admitida. Mas antes de entrar no Carmelo do Coração Imaculado de Maria, no Porto, fui assaltada por uma grande inquietação: será que vou aguentar viver fechada num convento, sem voltar a ver o mar e as paisagens tão belas da natureza  que tanto me extasiam!? A isto respondeu-me um sacerdote: «Ama, ajoelha-te diante de Deus e vive na contemplação, que irás ter outras compensações». E assim aconteceu.

Estive doze anos no Carmelo do Porto, e, ao ser pedida uma fundação na Diocese de Aveiro pelo seu Bispo D. Manuel de Almeida Trindade, ofereci-me para fazer parte do grupo das Irmãs fundadoras e aqui continuo a viver a missão que Deus me confiou. Posso dizer que até hoje nunca senti desejo ou necessidade de sair da clausura fosse para o que fosse. A minha família ao princípio não entendeu a minha opção pelo Carmelo, mas hoje alguns dos meus familiares têm orgulho de eu ser carmelita. A minha avó pediu-me perdão por me ter contrariado tanto e disse-me que se eu voltasse atrás teria um grande desgosto e revelou-me um segredo: «Quando tinhas mais ou menos um ano tiveste uma doença grave que te pôs quase morta, e teu pai desfazia-se em mimos e carinhos contigo e eu disse-lhe: “tanta coisa com a tua menina e ela vai morrer…” Ele respondeu-me:”A minha filha não morre porque vai ser uma freirinha”. Nunca te disse isto para não te condicionar».

Nunca me cansarei de agradecer a Deus por tudo quanto fez por mim.