Queridas Irmãs de Vida Contemplativa

As palavras de S. Paulo recordam-nos que recebemos o Espírito de adopção filial que nos torna filhos de Deus (Rm 8,15-16). Estas breves palavras condensam a riqueza de toda a vocação cristã: o gozo de nos sabermos filhos de Deus.

Esta é a experiência que sustenta as nossas vidas e quer ser sempre uma resposta agradecida a esse amor. Como é importante renovar dia a dia este gozo! Sobretudo nos momentos em que ele nos deixa. É necessário voltar a pedi-lo e a renovar: sou filha, sou filha de Deus.

As Irmãs têm um caminho privilegiado para renovar esta certeza é a vida de oração, oração comunitária e pessoal. A oração é o núcleo da vossa vida consagrada, esta vida contemplativa. A oração é o modo de cultivar a experiência de amor que sustem a nossa fé, é uma oração sempre missionária. Não é uma oração que bate nos muros do convento e volta para trás. É uma oração que vai e sai.

A oração missionária é a que se une aos irmãos nas mais variadas circunstâncias em que se encontram e reza para que não lhes falte o amor e a esperança.

Assim dizia Santa Teresinha do Menino Jesus: «Entendi que só o amor é o que faz andar os membros da Igreja e que, se faltasse o amor, nem os apóstolos anunciariam o Evangelho, nem os mártires derramariam o seu sangue. Reconheci claramente que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo, que abarca todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno… no coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor.»

Rezam e intercedem por muitos irmãos e irmãs presos, emigrantes, refugiados e perseguidos; por tantas famílias feridas, pelos pobres, pelos doentes, pelas vítimas de dependências, para mencionar apenas algumas das situações diárias mais urgentes.

Vocês são como aqueles amigos que levaram o paralítico diante do Senhor, para que o curasse. Não tinham vergonha, eram desavergonhados, melhor dito, não tiveram vergonha de fazer um buraco no tecto e baixar o paralítico (Mc 2,1-12). Sejam desavergonhadas. Não tenham vergonha de fazer através da oração com que o poder e a miséria dos homens se aproximem do poder de Deus. Essa é a vossa oração.

Através da oração, dia e noite, aproximam do Senhor a vida de muitos irmãos e irmãs que por diversas situações não o podem alcançar para experimentar a sua misericórdia que cura e liberta, porém o Senhor espera-os para os encher de graças.

Através da vossa oração vocês curam as chagas de muitos irmãos. Precisamente por isso podemos afirmar que a vida de clausura não encerra, nem encolhe o coração, pelo contrário dilata-o. Não é possível ser monja contemplativa com o coração encolhido. Além disso as monjas encolhidas são monjas que perderam a fecundidade, que não são mães, queixam-se de tudo. A Santa Madre Teresa de Jesus dizia: Ai da monja que diz fizeram-me sem razão! No convento não há lugar para coleccionadoras de injustiças, mas lugar para aquelas que abrem o coração e sabem levar a cruz, a cruz fecunda, a cruz do amor, a cruz da vida.

O amor dilata o coração e pelo trato com o Senhor, vamos adiante porque Ele faz-nos sentir de um modo novo a dor, o sofrimento, a frustração, a desventura de tantos irmãos que são vítimas desta «cultura do descarte» do nosso tempo.

Que a intercessão pelos necessitados seja a característica da vossa oração. Com os braços no alto como Moisés com o coração suplicando. A oração de súplica que se faz nos mosteiros sintoniza com o Coração de Jesus que implora ao Pai para que todos sejam um e o mundo acredite (Jo 17,21).

Quanto necessitamos da unidade da Igreja! Que todos sejam um. Quanto necessitamos que os baptizados sejam um, que os consagrados sejam um, que os sacerdotes sejam um, que os bispos sejam um! Hoje e sempre! Unidos na fé. Unidos na esperança. Unidos na caridade. Essa unidade que brota da comunhão com Cristo que nos une ao Pai no Espírito e, na Eucaristia, nos une uns com os outros nesse grande mistério que é a Igreja.

Esforcem-se na vida fraterna, fazendo com que cada mosteiro seja um farol que possa iluminar no meio da desunião e divisão. Ajudem a profetizar que isto é possível. Que todo aquele que se aproxima de vocês possa saborear a bem-aventurança da caridade fraterna, tão característica da vida consagrada e tão necessária no mundo de hoje e nas nossas comunidades. Quando se vive a vocação na fidelidade a vida converte-se em anúncio do amor de Deus.

A grande Mestra da vida espiritual, Santa Teresa dizia-nos: «”Se perdem o guia, que é o bom Jesus, nunca acertarão o caminho.” […] Temos de seguir sempre atrás D’Ele. Padre às vezes Jesus termina no Calvário. Pois segue-O aí também, porque também te espera aí porque te ama. Porque o mesmo Senhor disse que é o caminho; também disse que é a luz, e que ninguém pode ir ao Pai senão por Ele». 

Queridas Irmãs a Igreja precisa de vocês. A Igreja precisa que com a fidelidade da vossa vida sejais faróis a indicar Aquele que é caminho, verdade e vida, o único Senhor que oferece plenitude à nossa existência e dá vida em abundância.

Papa Francisco